“A crítica, a comparação e a ameaça são as armas mais perigosas na violência emocional.”
Violência não é um assunto moderno. Órgãos governamentais, educacionais e religiosos estão cada vez mais focando o interesse nesta área, e usando muitos recursos na busca de novos comportamentos, na esperança de que a violência familiar diminua. O mais lamentável é a constatação de que nem sempre a prática religiosa ameniza a agressividade. E em alguns casos, até há um aumento de agressão e violência motivada pelo zelo em relação ao cumprimento das regras e ou dos princípios da fé abraçada.
Há várias formas de se manifestar um comportamento violento: violência física, sexual, emocional, espiritual e outras. Fato é que qualquer violência é danosa e os males por ela causados podem ser desastrosos. A violência física, a mais fácil de ser identificada, é também a que mais chama a atenção. E contra esta podemos contar com a interferência policial, denunciando os abusos físicos que sofremos ou de que tomamos conhecimento. Mas é preciso ficar atento a outra forma de violência, bem mais sutil – mas nem por isso menos destrutiva: aquela praticada contra a alma do ser humano, a violência psicológica.
É alarmante o número de pessoas que chegam aos consultórios de psicólogos e terapeutas em busca de ajuda em relação a traumas adquiridos em conseqüência de violências sofridas na infância, na adolescência e na juventude. E os que se dão conta do mal sofrido e procuram atendimento especializado são os que apresentam ainda uma boa dose de saúde psíquica. Mas quantas pessoas estão hoje aniquiladas e destruídas a tal ponto que perderam qualquer motivação para serem elas mesmas e não encontram recursos para buscarem a restauração? E o mais desastroso é que muitas vezes quem pratica este tipo de violência é uma pessoa integrada na sociedade ou na comunidade religiosa – e daquelas que aparentam autocontrole, bondade e mansidão.
Vale citar o caso de Henrique, um jovem introspectivo, de pouca fala e com um talento artístico admirável. Enquanto criança, era distraído e demorava um pouco mais para apresentar resultados no aprendizado em comparação com a maioria dos colegas da mesma idade – só que sua mãe preferiria que o filho fosse uma dessas crianças falantes, desinibidas e que se destacassem pelo bom rendimento escolar. Como isso não acontecia, ela o criticava constantemente com frases duras, sempre desmerecendo o potencial do menino. Desapontada, aquela mãe resolveu levar Henrique a um médico, na certeza de que o filho tinha alguma deficiência séria. Foi o suficiente para que o menino entrasse numa espécie de congelamento emocional, acreditando que tinha menos potencial do que realmente possuía. Hoje, já adulto e em processo de resgate de sua própria auto-estima, ele já consegue se expressar, inclusive artisticamente, com muito talento.
A crítica, a comparação e a ameaça são as armas mais perigosas na violência emocional. A crítica, porque além de não construir uma auto-estima adequada, pode ainda aniquilar a confiança necessária a todo ser humano. A comparação, porque leva o indivíduo, sobretudo a criança, a duvidar dos próprios valores – mesmo que chegue à vida adulta e conquiste suas próprias realizações, sempre terá que lidar com aquela sensação negativa de que os outros são melhores. E a ameaça, porque pode criar fantasmas a povoar a mente, como se fossem monstros que se apresentam sugerindo frases ameaçadoras do tipo “você nunca vai ser ninguém na vida”.
Como pais, precisamos de coragem para olhar as projeções e idealizações que jogamos em cima dos nossos filhos. Não faz sentido exigir deles um desempenho incompatível com o jeito próprio de cada um ser. É preciso quebrar a imagem idealizada de perfeição a fim de abrir espaço para acolher as diferenças e peculiaridades dos filhos, sem temer a rejeição de outros – muitas vezes, aquela perpetrada pela própria comunidade religiosa. É preciso também uma capacidade de escuta amorosa, para ouvir de verdade quem é cada um dos filhos que estão sob nosso cuidado e responsabilidade.
Deus é nosso parâmetro de amor. Precisamos conhecer e experimentar profundamente a sua graça amorosa, a graça de um Pai que nos ama e nos acolhe indistintamente. Com a percepção do amor divino inundando nosso coração, seremos mais capazes de amorosamente acolher cada filho, ajudando-o a desenvolver o potencial nato e especial que cada ser humano tem. Sem críticas, sem comparação e sem ameaças.
Fonte: cristianismohoje.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário