COLÔMBIA (*) - “Obrigada por sua presença e ajuda. Isso mostra que não estamos sozinhos”, disse Ida Miranda González, esposa do pastor William Reyes Piedrahita, desaparecido desde 25 de setembro do ano passado.
Os sequestradores nunca fizeram contato.
O rapto de William chocou o conselho de Maicao que, em 4 de outubro, realizou uma marcha pacífica em protesto ao desaparecimento do pastor. As ruas de Maicao ficaram cheias com milhares de pessoas exigindo a libertação do pastor.
Mas, quatro meses sem receber notícias de William, Ida e sua família ficaram esquecidos. Em meio à dor causada pela ausência do pastor, o executivo nacional da Igreja Inter-Americana decidiu enviar um novo pastor para assumir todas as funções que Ida assumira na ausência do marido.
Embora a Portas Abertas não dê treinamento para pastores na região, um coordenador foi à casa de Ida a fim de apoiá-los espiritual e emocionalmente. Ele também entregou ajuda financeira à família, mostrando-lhes que há corações que se identificam com o sofrimento deles, mesmo sem conhecê-los face a face.
Com o dinheiro recebido, Ida pagou suas dívidas. Ela não estava recebendo o salário integral que seu marido recebia como pastor.
“Foi uma grande ajuda. Vocês não imaginam a dor que isso nos causou, e piorou quando nos vimos sem dinheiro e sem o William conosco, ao meu lado e de nossos filhos William, Nelly e Estefânia... Foi uma verdadeira bênção receber a visita de vocês nessa época”, Ida agradeceu.
Crescendo, apesar do medo
William, 41 anos, serviu como pastor da Igreja Inter-Americana em Maicao por quase três anos. Em agosto passado, ele organizou um grande evento para celebrar os 30 anos do ministério na cidade.
O pastor é do interior do país e, com sua esposa, desenvolveu trabalhos missionários em diferentes partes da Colômbia.
Enquanto Ida liderava a congregação na ausência de William, houve um crescimento incomum, mesmo levando em conta que essa igreja cresceu, nos últimos três anos, mais do que outras no Departamento de Guajira.
A tragédia de setembro provocou um desejo nas pessoas de continuar o trabalho que William começara. “Parece que o sumiço de William virou uma semente que caiu na terra e morreu para dar vida a outros”, disse um ministro da região.
Drama feminino
Apesar disso, a decisão dos líderes nacionais da missão forçou Ida e seus três filhos a buscar outra forma de suprir suas necessidades financeiras.
Essa é a realidade que a maioria das pastoras e esposas de líderes tem de suportar. Depois de anos devotados ao ministério, em vez de aplicados a estudos acadêmicos, elas são excluídas do trabalho, ficando com o coração arrasado. Pior ainda: elas não têm uma oportunidade decente de desenvolver as habilidades que adquiriram no serviço a Deus na igreja.
A Portas Abertas tem mantido contato com Ida pelo telefone. Ida encontrou em nosso ministério refúgio para aliviar sua tristeza.
“Pastor, estou ligando para dizer o que me aconteceu. Sonhei que vocês estavam perto de mim e entendi que Deus pode me dar uma palavra de ânimo nesse”, disse Ida ao coordenador da Portas Abertas. “Deus tem usado esse ministério para me ajudar e ouvir. Obrigada por sua paciência”, acrescentou ela.
Medo atinge outros pastores
Em 3 de julho de 2008, William recebeu uma nota por escrito que dizia: “Pastor, estou preocupado com você. Cuide-se. Dois homens já pagaram 2 milhões de pesos para machucá-lo. Fui à sua igreja e aprendi a apreciá-lo. Por isso, é triste saber que algo pode lhe acontecer”.
Na última visita que o representante da Portas Abertas fez, os pastores de Maicao estavam preocupados com as contínuas ameaças que recebem de guerrilhas. Desde o desaparecimento de William, essas guerrilhas visitaram todas as igrejas de Maicao, exigindo entre 20 e 50 milhões de pesos, variando de acordo com o tamanho da congregação.
Essa prática, realizada em todo o país tanto por guerrilheiros como por paramilitares, é conhecida como “vacina”, e financia parte da guerra. Um grupo que se identificou como “Aves Negras” afirmou ser responsável pelo sequestro de William e pela extorsão de pastores.
Em panfletos e telefonemas, o grupo afirma que “as igrejas estão se enchendo de dinheiro (...); a religião não contribui conosco para a guerra, ela faz uma lavagem cerebral nas pessoas”.
Houve diversos ataques a bomba, assassinatos e roubos planejados. Em 8 de novembro de 2008, no bairro de Santander, seis pessoas morreram. Dez dias depois, um editorial relatou: “Coisas estranhas estão acontecendo em Maicao. Muito estranhas, para ser preciso. Pessoas são mortas e ninguém explica por que esses eventos acontecem. Em tempos como esses, os cidadãos têm o direito de se colocarem nas mãos de Deus e requerer a intervenção dos governantes”.
Essa situação afeta intensamente a igreja. Enquanto houver grupos ilegais, haverá restrições à pregação do evangelho, já que os dois lados da guerra na Colômbia não acreditam na convivência pacífica com os evangélicos.
Tradução: Texto traduzido pela fonte