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sábado, 18 de abril de 2009

Um novo tipo de cristão antigo

Nem todos deveriam dirigir-se à montanha da inovação. Mas alguns deveriam.

Eu deveria saber que estava pedindo para ter problemas quando dei a meu quarto livro o título de A New Kind of Christian (Um novo tipo de cristão). Os críticos ironizaram: “Não precisamos de um novo tipo de cristão; precisamos do antigo tipo de cristão”.

Um crítico em particular reforçou este ponto louvando a virtuosa falta de originalidade de C. S. Lewis e Soren Kierkegaard – contrastando estes grandes mestres com “reformadores pós-modernos” como eu, os quais, segundo ele sugere, buscam a novidade e a inovação como um fim em si mesmos. Em uma coisa, no entanto, estamos de acordo: ninguém parece estar muito feliz com o cristão contemporâneo. Mas vale perguntar: encontraremos uma melhor alternativa se olharmos para trás ou para frente? E se olharmos em ambas as direções?

Eu simpatizo com o menosprezo do meu crítico amigo em relação às mais recentes novidades. A última incrível inovação sempre promete mais do que dá conta de cumprir e o preço de expectativas repetidamente frustradas não é barato, levando ao cinismo, à apatia, e à desilusão. O fenômeno do “esgotamento”, pelo qual os lugares de avivamento de ontem se tornam lugares de persistente dureza espiritual de hoje, demonstra que os ganhos de curta duração decorrentes do abalo produzido pelo novo, acabam dando lugar a profundas perdas de longa duração. Nossa nação inteira talvez ainda chegue algum dia a este estado de melancolia e esgotamento.

Outro crítico amigo recentemente citou a frase do “antigo tipo de cristão” para mim. Sentindo-me bastante espirituoso, retruquei: “Que tipo de antigo cristão você recomenda? O judeu convertido do ano 33 A.D.? O grego do século 4? O alemão do século 16? Ou o holandês do século 17?”. Sua fascinante resposta foi que os Celtas, São Francisco e William Wilberforce exemplificavam o tipo de cristãos que esperava ver hoje em dia. “Eu nunca vi ninguém juntar estes três nomes numa mesma sentença antes”, respondi, “mas eu até que gosto da imagem de um Wilberforce franciscano e celta. Ocorre-me que um cristão antigo resultante desta combinação seria, na realidade, algo bastante novo, bastante inovador”. Mas esta afirmação não foi muito bem recebida...

Len Sweet usa a imagem de um balanço para descrever o tipo de movimento que precisamos. Como toda criança sabe muito bem – ainda que não seja capaz de explicar em palavras – o prazer de brincar no balanço advém de uma combinação paradoxal de movimentos: inclina-se o corpo para frente enquanto as pernas são jogadas para trás – joga-se as pernas para frente enquanto inclina-se o corpo para trás. Uma combinação semelhante será exigida de nós se quisermos avançar em direção ao futuro. Daí que meus críticos tenham razão de reclamar de “um novo tipo de cristão novo” embora não tenham tanta razão ao defender o ideal de “um antigo tipo de cristão antigo”. Pois não basta ser “novo/novo” nem “antigo/antigo”. Pois é a combinação novo-antigo que nos vai ajudar a voar. Jesus exemplificou isto assim como o fizeram os Celtas, São Francisco, Wilberforce e também Kierkegaard e C. S. Lewis.

Num mundo em mudança, é impossível não mudar. Resistir ou temer as mudanças pode transformar você em alguém resistente ou temeroso. Afinal, também é possível mudar para pior. Nossa escolha então não consiste em mudar ou não mudar, mas em mudar de maneira sábia ou tola. Penso que não deveríamos ser tão duros uns com os outros. Aqueles entre nós que se sentem chamados à inovação e à originalidade não deveriam usar uma linguagem tão dura em relação aos nossos irmãos mais cautelosos. Tampouco deveriam estes nos julgar por aquilo que fazemos ou somos.

Considere isto: uma árvore tem um tronco e muitas raízes que mudam lentamente. Elas geralmente são rígidas como devem ser. Contudo, por causa do vento que sempre sopra, os galhos necessitam de alguma flexibilidade, e as folhas precisam ser maleáveis e flexíveis. Os galhos mantêm as folhas presas e, como a linha de uma pipa, não permite que elas se soltem. Sem o tronco e as raízes, as folhas morrerão. O reverso é igualmente verdadeiro, se bem que menos óbvio.

Outra imagem: as colônias inglesas originais dos EUA no Atlântico durante o tempo da expansão norte-americana para o Oeste. Os pioneiros sentiram-se chamados para as montanhas e pradarias, e para lá eles foram a pé, a cavalo, e em carroças para abrirem caminho onde nenhum caminho havia ainda sido aberto. Eles eram uma minoria. A maior parte das pessoas ficou nos territórios civilizados com vínculos mais estreitos com a parte mais antiga do país. Se todos tivessem deixado as colônias pelos novos territórios de uma só vez, o resultado teria sido desastroso. Por outro lado, se ninguém tivesse se aventurado, que triste não teria sido!

Nós vivemos na fronteira de uma cultura emergente onde não existem ainda caminhos abertos e conhecidos. Por isto nem todos deveriam dirigir-se para as montanhas. Mas alguns deveriam. Eles serão criticados; algumas vezes criticarão aqueles tidos como demasiadamente tímidos para participar da aventura. Ao invés disto, porém, eu quero ter a esperança de que os inovadores respeitarão seus primos nas colônias e vice-versa. Pois ambos tem uma tarefa a cumprir. Nós precisamos de raízes e folhas, colonos e pioneiros. Para voarmos, precisamos nos inclinar para trás e tomar impulso para frente, balançando entre o novo e antigo com alegria e, quem sabe até, sorrindo como uma criança.

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