Mesmo não podendo estar lá, dá pra sentir de longe o gostinho maravilhoso da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no estado do Rio de Janeiro, com sua variedade temática e debates estimulantes. Sobre religião, o destaque é para o inglês Richard Dawkins que encara como uma missão "defender a ciência e o fim da influência da religião no mundo". Na conferência de 2/7, Dawkins reconheceu a religião como fonte de alívio e conforto, e sua forte influência nas artes, mas não considerou os dois argumentos suficientes para validá-la. “O fato de as pessoas encontrarem alívio e conforto na religião não significa que ela seja verdadeira”, afirmou.
A participação de Dawkins é um dos destaques da Flip no ano em que a publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, comemora 150 anos. Autor do polêmico livro Deus, um Delírio, traduzido para 31 idiomas, ele insiste que não há evidência para a criação do Universo tal como sustenta a religião. “O mundo é cheio de mitos maravilhosos, com uma beleza poética fabulosa”, disse. O biólogo defendeu o ateísmo e, bem humorado, convocou os ateus a saírem do armário. “Há muitos ateus que nunca ousaram levantar a sua voz. Nós fomos educados para não atacar a religião. A crítica mais suave pode soar agressiva”, afirmou.
Perguntado sobre o medo da morte, Dawkins disse que teria, caso fosse religioso e pelo mistério que existe em torno dela, e o que vem depois. “Não antecipo, nem aguardo ansiosamente o processo da morte. Faço parte da única espécie condenada a sofrer”, disse.
Dawkins encerrou a sua participação, no palco principal da Flip, respondendo a um leitor que, da plateia, quis saber qual seria a reação do cientista se se descobrisse diante de Deus. Ele afirmou que, primeiramente, perguntaria de qual deus tratava-se. Em seguida acrescentaria: “Não há evidência de que você seja Deus”.
(Até aqui, com texto da Agência Brasil - Lísia Gusmão)
Uma resposta evangélica ao chamado "fundamentalismo ateísta" de Dawkins é o livro "O delírio de Dawkins", de Alister e Joanna McGrath, lançado em 2007 pela editora Mundo Cristão.
O debate é de gigantes: tanto Dawkins quanto os McGrath são cientistas de primeira. A ponto de o diretor do Projeto Genoma, Francis Collins, comentar o entrevero: "Alister McGrath (Universidade de Oxford) analisa as conclusões do livro Deus, um delírio e desmantela o argumento de que a ciência deve levar ao ateísmo. McGrath demonstra como Richard Dawkins abandonou sua usual racionalidade para abraçar o amargo e dogmático manifesto do ateísmo fundamentalista".
Resenha do livro diz: "Alister, outrora ateu, doutorou-se em biofísica molecular antes de tornar-se teólogo. Admirador da obra de Dawkins, Alister revela sua perplexidade pela guinada irracional de seu colega de Oxford, não tanto pelo ateísmo em si, mas pela absoluta inconsistência de seus argumentos, aliados à intolerância desmedida".
No site da Flip 2009, texto da assessoria de comunicação diz:
"Com prosa calma e tiradas bem-humoradas, além da camisa de motivos florais em preto-e-branco que lhe dava um curioso aspecto tropical-britânico, o cientista Richard Dawkins (queniano que estudou na Inglaterra) falou sobre um tema que, como se viu, parece ser do interesse de todos: Deus. O auditório, lotado, aplaudiu-o diversas vezes. E se é mesmo que Deus não existe, como assegura Dawkins, ateu convicto e darwinista fervoroso, pelo menos existiu durante uma hora e meia, tal o número de vezes em que foi citado na última sessão da quinta-feira na Tenda dos Autores.
"Dawkins, cientista premiado, tem vários de seus livros lançados no Brasil. Deus, um Delírio, e A Grande História da Evolução foram as principais referências para a conversa que o autor manteve com o jornalista Silio Boccanera na forma de uma entrevista solta e flexível, que lhe abriu espaço para longas digressões. Referindo-se ao segundo título mencionado acima, Dawkins explicou: “Eu queria fazer um livro grande sobre a história da vida, que começasse no presente e retroagisse em busca de nossos ancestrais, numa espécie de romaria como a daquelas pessoas que, na Idade Média, partiam de Londres até a catedral de Canterbury, no sul da Inglaterra. E ao longo desse trajeto regressivo vamos encontrar inúmeros companheiros de viagem, como minhocas, caramujos e insetos”.
"Embora adepto da teoria evolucionista, Dawkins se diz contrário à aplicação das ideias darwinistas ao campo social. Segundo ele, isso pode resultar em ideologias como o nazismo e outros modelos de pensamento que se baseiam numa suposta lei do mais forte para justificar a segregação racial. Ele admite que havia traços racistas e também sexistas em Darwin, porém considera tais posturas perfeitamente explicáveis na sociedade vitoriana do século XIX. “Em matéria de política, sou antidarwinista”, esclareceu. “Podemos e devemos lutar contra nossos genes.”
"Sem ser religioso, Dawkins admite a importância da religião como fonte inspiradora para escritores e artistas, citando os exemplos da Capela Sistina e da música de Bach. “Não é possível entender a história europeia sem a compreensão da Bíblia, e o mesmo vale para os deuses gregos”, reflete. “Tudo isso faz parte da nossa herança. Porém a arte não valida a religião. Devemos levar em conta que os artistas trabalhavam para quem podia pagá-los. E quem os pagava eram pessoas religiosas.” Para Dawkins, os poetas e artistas ainda não deram a devida atenção à ciência como inspiração para suas obras, do mesmo modo como sempre o fizeram com a religião e o amor. Trata-se de um campo inexplorado e promissor, na opinião dele.
"Na parte final da entrevista, reservada a perguntas da plateia, Dawkins foi uma vez mais questionado a respeito de seu ateísmo em face da morte. Para ele, não há dúvida de que vivemos uma vida apenas, não mais, e justamente por isso é importante saber vivê-la na sua plenitude. “Se eu fosse religioso, poderia temer a morte por não saber o que virá depois”, explica. “Como sei que não virá nada, então estou tranquilo. Estando morto, não vou sentir falta da vida.” Risadas no auditório. E mais palmas para Dawkins."
A participação de Dawkins é um dos destaques da Flip no ano em que a publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, comemora 150 anos. Autor do polêmico livro Deus, um Delírio, traduzido para 31 idiomas, ele insiste que não há evidência para a criação do Universo tal como sustenta a religião. “O mundo é cheio de mitos maravilhosos, com uma beleza poética fabulosa”, disse. O biólogo defendeu o ateísmo e, bem humorado, convocou os ateus a saírem do armário. “Há muitos ateus que nunca ousaram levantar a sua voz. Nós fomos educados para não atacar a religião. A crítica mais suave pode soar agressiva”, afirmou.
Perguntado sobre o medo da morte, Dawkins disse que teria, caso fosse religioso e pelo mistério que existe em torno dela, e o que vem depois. “Não antecipo, nem aguardo ansiosamente o processo da morte. Faço parte da única espécie condenada a sofrer”, disse.
Dawkins encerrou a sua participação, no palco principal da Flip, respondendo a um leitor que, da plateia, quis saber qual seria a reação do cientista se se descobrisse diante de Deus. Ele afirmou que, primeiramente, perguntaria de qual deus tratava-se. Em seguida acrescentaria: “Não há evidência de que você seja Deus”.
(Até aqui, com texto da Agência Brasil - Lísia Gusmão)
Uma resposta evangélica ao chamado "fundamentalismo ateísta" de Dawkins é o livro "O delírio de Dawkins", de Alister e Joanna McGrath, lançado em 2007 pela editora Mundo Cristão.
O debate é de gigantes: tanto Dawkins quanto os McGrath são cientistas de primeira. A ponto de o diretor do Projeto Genoma, Francis Collins, comentar o entrevero: "Alister McGrath (Universidade de Oxford) analisa as conclusões do livro Deus, um delírio e desmantela o argumento de que a ciência deve levar ao ateísmo. McGrath demonstra como Richard Dawkins abandonou sua usual racionalidade para abraçar o amargo e dogmático manifesto do ateísmo fundamentalista".
Resenha do livro diz: "Alister, outrora ateu, doutorou-se em biofísica molecular antes de tornar-se teólogo. Admirador da obra de Dawkins, Alister revela sua perplexidade pela guinada irracional de seu colega de Oxford, não tanto pelo ateísmo em si, mas pela absoluta inconsistência de seus argumentos, aliados à intolerância desmedida".
No site da Flip 2009, texto da assessoria de comunicação diz:
"Com prosa calma e tiradas bem-humoradas, além da camisa de motivos florais em preto-e-branco que lhe dava um curioso aspecto tropical-britânico, o cientista Richard Dawkins (queniano que estudou na Inglaterra) falou sobre um tema que, como se viu, parece ser do interesse de todos: Deus. O auditório, lotado, aplaudiu-o diversas vezes. E se é mesmo que Deus não existe, como assegura Dawkins, ateu convicto e darwinista fervoroso, pelo menos existiu durante uma hora e meia, tal o número de vezes em que foi citado na última sessão da quinta-feira na Tenda dos Autores.
"Dawkins, cientista premiado, tem vários de seus livros lançados no Brasil. Deus, um Delírio, e A Grande História da Evolução foram as principais referências para a conversa que o autor manteve com o jornalista Silio Boccanera na forma de uma entrevista solta e flexível, que lhe abriu espaço para longas digressões. Referindo-se ao segundo título mencionado acima, Dawkins explicou: “Eu queria fazer um livro grande sobre a história da vida, que começasse no presente e retroagisse em busca de nossos ancestrais, numa espécie de romaria como a daquelas pessoas que, na Idade Média, partiam de Londres até a catedral de Canterbury, no sul da Inglaterra. E ao longo desse trajeto regressivo vamos encontrar inúmeros companheiros de viagem, como minhocas, caramujos e insetos”.
"Embora adepto da teoria evolucionista, Dawkins se diz contrário à aplicação das ideias darwinistas ao campo social. Segundo ele, isso pode resultar em ideologias como o nazismo e outros modelos de pensamento que se baseiam numa suposta lei do mais forte para justificar a segregação racial. Ele admite que havia traços racistas e também sexistas em Darwin, porém considera tais posturas perfeitamente explicáveis na sociedade vitoriana do século XIX. “Em matéria de política, sou antidarwinista”, esclareceu. “Podemos e devemos lutar contra nossos genes.”
"Sem ser religioso, Dawkins admite a importância da religião como fonte inspiradora para escritores e artistas, citando os exemplos da Capela Sistina e da música de Bach. “Não é possível entender a história europeia sem a compreensão da Bíblia, e o mesmo vale para os deuses gregos”, reflete. “Tudo isso faz parte da nossa herança. Porém a arte não valida a religião. Devemos levar em conta que os artistas trabalhavam para quem podia pagá-los. E quem os pagava eram pessoas religiosas.” Para Dawkins, os poetas e artistas ainda não deram a devida atenção à ciência como inspiração para suas obras, do mesmo modo como sempre o fizeram com a religião e o amor. Trata-se de um campo inexplorado e promissor, na opinião dele.
"Na parte final da entrevista, reservada a perguntas da plateia, Dawkins foi uma vez mais questionado a respeito de seu ateísmo em face da morte. Para ele, não há dúvida de que vivemos uma vida apenas, não mais, e justamente por isso é importante saber vivê-la na sua plenitude. “Se eu fosse religioso, poderia temer a morte por não saber o que virá depois”, explica. “Como sei que não virá nada, então estou tranquilo. Estando morto, não vou sentir falta da vida.” Risadas no auditório. E mais palmas para Dawkins."
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