Em tempos de crescente participação de evangélicos na política, em especial das correntes pentecostal e neopentecostal, o professor Saulo Baptista, da Universidade Estadual do Pará, falou aos alunos do curso de Teologia da Metodista de Minas, Instituto Izabela Hendrix, sobre "as estratégias e práticas das igrejas evangélicas que atuam na política nacional". Ao final da palestra, deixou uma lista de desafios e responsabilidades que afetam de maneira ainda mais especial aqueles que, além de cidadãos brasileiros, estão no Reino de Deus.
"Quero concluir com alguns desafios para todos nós, que atuamos nos campos da Teologia e das Ciências da Religião. Creio que essas propostas têm um peso maior de responsabilidade para quem, além de cidadão de um Estado qualquer, é cidadão do Reino de Deus", declarou o professor.
Dentre os desafios propostos aos cientistas da religião e teólogos, destacam-se:
- "Descobrirmos e enfrentarmos as articulações políticas e os comportamentos das lideranças religiosas, que quase sempre se lançam à conquista do poder político para reforçarem suas posições relativas dentro e fora das instituições, quando, ao contrário, deveriam zelar pela propagação da fé, formação ética de bons cidadãos e construção de uma nova sociedade";
- "Pesquisar e oferecer à sociedade brasileira um testemunho que ajude os fiéis a entenderem a riqueza de sentido e de produção simbólica que a fé cristã tem a oferecer, e o que há de manifestação da presença divina em outras tradições religiosas";
"Conscientizar a base das igrejas da força que discursos e símbolos religiosos carregam e como podem ser usados para o mal, se forem empregados para manipular fiéis como massas de manobra, ou como currais eleitorais";
"Chamar as lideranças religiosas para um diálogo franco, identificando quais dentre elas são pessoas de boa-vontade, dispostas a construir organizações religiosas, nas quais a fé se torne uma pedagogia madura e engajada na justiça e na verdade, um exercício de compreensão dos problemas para elevar o grau de consciência crítica da própria sociedade. Para isto acontecer, essas organizações deverão tornar-se laboratórios de autogoverno, comunidades de iguais, onde os líderes estarão ali para servir, ou seja, serão servos e servas, irmãos e irmãs, companheiros e companheiros, sem a existência de detentores privilegiados do saber e do poder".
Saulo é autor do livro “Pentecostais e neopentecostais na política brasileira: estudo sobre cultura, política, Estado e atores coletivos religiosos no Brasil”, lançado, em Belo Horizonte, após a palestra, no dia 17 de agosto. Na obra, o professor aborda a questão do ponto de vista sociológico e analisa o envolvimento de políticos da “bancada evangélica” em escândalos de corrupção, como os do mensalão e das ambulâncias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário